OS CRISTÃOS EM ISRAEL

"... levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos,exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria..." (At 8.1). "Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos." (At 11.26)

As comunidades cristãs em Israel surgiram com o próprio Jesus Cristo, em seu ministério terreno. Com a sua morte, os discípulos promoveram maciça evangelização do mundo gentio; porém, a igreja que ficou em Jerusalém e arredores susteve a nova fé, apesar de guardar alguma identidade com o judaísmo. Desde a reconstrução de Jerusalém como cidade romana e com o nome de Aelia Capitolina (cerca de 130 AD, por Adriano), a igreja local tem sido completamente gentílica em sua composição.

A igreja em Jerusalém também foi una e indivisa até os primeiros concílios ecumênicos.Na época da conquista muçulmana, a igreja no Oriente já estava subdividida em várias seitas, apesar de continuar compartilhando os Santos Lugares. Foi só com a implantação dos reinos cruzados e o domínio da igreja do Ocidente (latina) que surgiram as rivalidades com respeito aos lugares santos, que continuaram sem trégua durante os períodos mameluco e otomano, até a declaração do "Status Quo", em 1852.

Hoje, os cristãos representam menos de 3% da população de Israel (os muçulmanos são 14,2% e os drusos 1,7%). Esses dados não incluem a Margem Ocidental e a Faixa de Gaza, onde não se tem feito um censo, desde 1967.

É interessante destacar que a população cristã em Israel tem aumentado, apesar de que o número de cristãos tem diminuído na Judéia, em Samaria e em Gaza.

As comunidades cristãs podem ser divididas em quatro grupos principais, compondo-se de umas 20 igrejas antigas e autóctones e outros 30 grupos denominativos, principalmente protestantes.

São elas: ortodoxa, anticalcedônica (monofisista), católica (latina e uniata) e protestante.

Excetuando-se as igrejas nacionais - como a Armênia -, as comunidades autóctones são predominantemente de língua árabe; mui provavelmente, a maioria deles são descendentes das antigas comunidades cristãs da época do império bizantino.

As Igrejas Ortodoxas
A Igreja Ortodoxa (chamada também oriental ou ortodoxa grega) consiste de uma família de igrejas que reconhecem a primazia do Patriarca de Constantinopla. Historicamente, esta igreja provém das igrejas do Império Romano do Oriente ou Império Bizantino.

O patriarcado ortodoxo grego considera-se a "Igreja Mãe" de Jerusalém, que outorgou a dignidade patriarcal do bispo no Concílio de Calcedônia, em 451. Desde 1054, houve um cisma com Roma. Após 1099 e a conquista cruzada, o patriarcado (ortodoxo) de Jerusalém - que já estava no exílio - foi trasladado para Constantinopla. A residência permanente em Jerusalém só foi restabelecida em 1845.

Desde 1662, a direção dos interesses ortodoxos na Terra Santa recaiu na Fraternidade do Santo Sepulcro, cuja missão era salvaguardar o "status" da Igreja Ortodoxa nos Santos Lugares e preservar o caráter helenístico do patriarcado. Em 1964, deu-se em Jerusalém um encontro histórico entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Athenágoras.

Outras igrejas nacionais históricas têm sua representação no País, exemplo da russa e da romena. Ambas comunicam-se com a Igreja Ortodoxa Grega e encontram-se sob jurisdição local do Patriarcado Grego Ortodoxo.

A Missão Ortodoxa Russa estabeleceu-se em Jerusalém em 1858, mas cristãos russos começaram a visitar a Terra Santa já no século XI, poucos anos depois da conversão de Kiev ao cristianismo. Tais visitas continuaram nos séculos seguintes, eventualmente crescendo, até transformar-se em grandes romarias anuais, no século XIX, que continuaram até a Primeira Guerra Mundial e terminaram com a Revolução Russa.

A partir de 1949, o título de propriedade dos bens da igreja russa - no que então era território de Israel - estava em mãos da Missão Ortodoxa Russa (patriarcado de Moscou); o título de propriedade dos bens nas áreas que então estavam sob o controle jordaniano permanecem em mãos da Missão Eclesiástica Russa, que representa a Igreja Ortodoxa Russa no exílio. Ambas as missões são lideradas por um arquimandrita, a quem assistem vários monges.

Uma missão que representa a Igreja Ortodoxa Romena foi estabelecida em 1935. É dirigida por um arquimandrita e consiste de uma pequena comunidade de monges que residem em Jerusalém.

As Igrejas Anticalcedônicas
Anticalcedônicas são as igrejas do Oriente: a Armênia, a copta, a etíope e a Síria, que rechaçaram os ensinos do Concilio de Calcedônia (451) sobre a dupla natureza (humana e divina) de Cristo. As igrejas anticalcedônicas abraçaram a doutrina monofisista, segundo a qual em Cristo havia apenas uma única natureza divina.

A Igreja Ortodoxa Armênia data do ano 301, quando da conversão da Armênia - a primeira nação que abraçou o cristianismo. Uma comunidade religiosa Armênia tem estado presente em Jerusalém desde o século V. Fontes armênias fixam o primeiro patriarcado a uma autorização outorgada pelo califa Omar ao patriarca Abraão, no ano 638. O Patriarcado Armênio de Jerusalém foi estabelecido em 1311.

No transcurso do século XIX, durante e imediatamente depois da Primeira Guerra Mundial, a comunidade Armênia local cresceu, quando foram absorvidos os sobreviventes dos massacres de Anatólia, particularmente os de 1915. Antes de 1939, a comunidade contava com 15 mil membros e era em tamanho o terceiro grupo cristão. Atualmente, a comunidade resume-se a uns 4 mil membros em Jerusalém, Haifa, Jope e Belém.

A Igreja Ortodoxa Copta tem suas raízes no Egito, onde a maior parte da população se converteu ao cristianismo, durante os primeiros séculos. Eles afirmam haver chegado a Jerusalém com Santa Helena, mãe do imperador Constantino. Esta igreja teve uma rápida influência no desenvolvimento do monasticismo, no deserto da Judéia. A comunidade floresceu durante o período mameluco (1250-1517), e novamente com Mohamed Ali, em 1830. Desde o século XIII, o Patriarca de Alexandria (copto) mantém uma representação em Jerusalém, a cargo de um arcebispo residente. A comunidade conta com pouco mais de mil membros, em Jerusalém, Belém e Nazaré.

A Igreja Ortodoxa Etíope tem uma comunidade em Jerusalém que data, pelo menos da Idade Média. Os primeiros historiadores cristãos mencionam peregrinos etíopes na Terra Santa já no século IV. Com toda certeza, pode-se afirmar que durante os séculos que se seguiram a Igreja Etíope gozou de importantes direitos nos Santos Lugares, porém perdeu a maioria deles durante o período turco, antes da implementação do "Status Quo".

Atualmente, a Igreja Etíope em Israel é uma pequena comunidade liderada por um arcebispo e consiste principalmente de algumas dezenas de monges (apesar de a comunidade laica está crescendo), que vivem na Cidade Velha e ao redor da Igreja Etíope na Jerusalém Ocidental. Desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre Israel e Etiópia, a peregrinação tem aumentado e, em 1995, uns mil peregrinos etíopes participaram da celebração da Semana Santa.

A Igreja Ortodoxa Síria é a sucessora da antiga Igreja de Antioquia e uma das mais antigas comunidades cristãs do Oriente Médio. Entre suas tradições está o uso permanente do idioma sírio (aramaico ocidental) em sua liturgia e rezas. Também são conhecidos como os jacobitas (de Jacobo Baradaeus, que organizou a igreja no século VI). Seu patriarca reside em Damasco. Tem havido bispos ortodoxos sírios em Jerusalém, desde o ano 793, e de maneira permanente desde 1471. Atualmente, a igreja local é liderada por um bispo, que reside em Jerusalém no Mosteiro de São Marcos, que data do século VII. A comunidade conta com uns dois mil membros, a maioria dos quais vivem em Jerusalém e Belém.

A Igreja Apostólica do Oriente (às vezes, chamada erroneamente nestoriana), é originária da área fronteiriça entre Turquia, Irã e Iraque, mantém liturgia e rezas em siríaco (aramaico ocidental). Desde 1917, seu patriarca reside em Chicago e Kerala (Índia). A presença da igreja em Jerusalém foi estabelecida no século V. Atualmente, está representada por um arcebispo.

As Igrejas Latinas e as Uniatas
Independente das relações entre Roma e Constantinopla, não houve intento de estabelecer-se uma igreja ocidental na Terra Santa, separada do patriarcado ortodoxo, até o período cruzado, durante o qual existiu um Patriarcado Latino de Jerusalem (1099 a 1291). Esse ofício foi restituído em 1847. Desde então, a responsabilidade pela igreja local recaiu na Ordem Franciscana, que servia como custódia dos lugares santos latinos, desde o século XIV.

Hoje, a Igreja Latina de Jerusalém é dirigida por um patriarca, com a assistência de três vigários (residentes em Nazaré, Amã e Chipre). A comunidade em Israel conta uns vinte mil membros (com outros dez mil na Margem Ocidental e Gaza).

A Igreja Maronita é uma comunidade cristã de origem Síria, cujos membros vivem em sua maioria no Líbano. Essa igreja tem estado em contato formal com a Igreja Católica Romana, desde 1182, sendo a única igreja oriental completamente católica. Como corpo uniato (uma igreja oriental em contato com Roma que ainda mantém sua respectiva linguagem, ritos e lei canônica) possui sua própria liturgia, que é essencialmente um rito antioquino em linguagem siríaca.

A comunidade maronita em Israel conta com uns sete mil membros, dos quais a maioria vive na Galiléia. O Vicariato Patriarcal Maronita de Jerusalém data de 1875.

A Igreja Católica Melquita Grega foi criada em 1724 como resultado de um cisma na Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia. (O termo "Melquita" data do século IV e se refere aos cristãos locais que aceitaram a Definição de Fé do Concílio de Calcedônia e permaneceram em contato com a sede "imperial" de Constantinopla).

Uma arquidiocese católica grega foi estabelecida na Galiléia, em 1752. Vinte anos depois, os católicos gregos de Jerusalém foram submetidos à jurisdição do patriarca melquita de Antioquia, que está representado em Jerusalém por um vigário patriarcal. A atual população da diocese católica grega da Galiléia é de umas cinqüenta mil almas; da diocese de Jerusalém, umas três mil.

A Igreja Católica Síria, é um grupo uniato dissidente da igreja monofisita Síria ortodoxa que tem estado em contato com Roma, desde 1663. Os católicos sírios têm seu próprio patriarca (que reside em Beirute) e, desde 1890, um vigário patriarcal em Jerusalem, líder espiritual da pequena comunidade local e de Belém, totalizando uns trezentos e cinqüenta membros. Em julho de 1985, a comunidade consagrou a nova igreja patriarcal em Jerusalém, dedicada a São Tomás, apóstolo dos povos da Síria e da Índia.

A Igreja Católica Armênia separou-se da Igreja Ortodoxa Armênia em 1741, apesar de que uma comunidade Armênia da Cilícia (ao sul de Anatólia) já havia estado em contato com Roma, desde o período cruzado.

O patriarca católico armênio reside em Beirute porque na época as autoridades otomanas proibiam a residência deste em Constantinopla. Um vicariato patriarcal foi estabelecido em Jerusalém, em 1842. A comunidade Armênia católica na Terra Santa conta com uns novecentos membros residentes em Jerusalém, Betânia, Ramalá, Haifa e Gaza. Apesar de unida a Roma, a igreja mantém boas relações com a Igreja Ortodoxa Armênia e ambas cooperam em benefício da comunidade em geral.

A Comunidade Católica Caldeia é uma descendente uniata da antiga Igreja Nestoriana (Assíria). Seus membros ainda preservam o uso do siríaco na liturgia. Foi estabelecida em 1551 e seu patriarca reside em Bagdá. A comunidade na Terra Santa conta com umas poucas famílias; não obstante, a Igreja Católica Caldéia mantém o status de comunidade religiosa "reconhecida". Desde 1903, os caldeus têm representação em Jerusalém com um vigário patriarcal não residente.Teve um grande significado para as igrejas católicas, na Terra Santa, o acordo celebrado em 30/12/93, entre a Santa Sé e o Estado de Israel, que levou ao acordo de relações diplomáticas plenas entre ambos.

As Igrejas Protestantes

As comunidades protestantes no Oriente Médio datam, apenas, do inicio do século XIX, após o "redescobrimento" da Terra Santa por parte dos missionários ocidentais. O objetivo dessas missões era evangelizar as maiorias muçulmanas e judias; porém, o único êxito que tiveram foi atrair a si fiéis ortodoxos de idioma árabe.

Em 1841, a rainha da Inglaterra e o rei da Prússia decidiram estabelecer um bispado conjunto anglicano-luterano em Jerusalém. Em 1886, ambas as igrejas se separaram. A parte inglesa, a Igreja Episcopal em Jerusalém e Oriente Médio (anglicana), chegou a ser um bispado, em 1957. Em janeiro de 1976, ocorreram importantes mudanças, havendo a criação de uma nova Diocese para Jerusalém e Oriente Médio e a eleição e consagração do primeiro bispo árabe. Há uns quatro mil e quinhentos anglicanos na diocese (pouco menos de três mil, em Israel), sendo a maior comunidade protestante na Terra Santa. O bispo anglicano de Jerusalém tem sua sede na Igreja Catedral de São Jorge, o Mártir.

Desde sua fundação, em 1886, a parte alemã, a Igreja Luterana, tem atraído cada vez mais adeptos. Desde 1979, sua congregação de idioma árabe tem seu próprio bispo, independente da igreja alemã, apesar de ambas compartilharem o mesmo edifício do Propstei, na Rua Muristán na Cidade Velha. A comunidade árabe conta uns quinhentos membros e a alemã, uns duzentos.

A propriedade alemã luterana, que havia sido confiscada pelos ingleses em 1939, foi comprada pelo governo de Israel, em 1951, como parte do acordo de reparações com a República Federal da Alemanha.

Em 1982, a Missão Noruega em Israel transferiu a autoridade e a administração de suas duas missões em Haifa e Jope para a responsabilidade das congregações locais.

A Igreja Batista na Terra Santa começou com a formação de uma congregação em Nazaré, em 1911. Hoje, a Associación de Igrejas Batistas conta com um total de dez igrejas e centros nos seguintes lugares: Acre, Caná, Haifa, Jope, Jerusalém, Kfar-Yasif, Nazaré, Petaj Tikva, Ramá e Tur'an. A comunidade conta com uns novecentos membros, em sua maioria de fala árabe.

A Igreja da Escócia (Presbiteriana) enviou sua primeira missão para a Galiléia em 1840, e durante os próximos cem anos participou ativamente nos campos da educação e da medicina. A Igreja da Escócia é, atualmente, uma pequena comunidade e, em grande parte expatriada, que serve a peregrinos e visitantes, com igrejas e hospícios em Jerusalém e Tiberíades. A Sociedade Missionária Médica de Edimburgo mantém um hospital para treinamento de enfermeiras, em Nazaré.

A Igreja de Deus (Pentecostal) conta com uma pequena comunidade em Jerusalém, Nazaré e na Margem Ocidental (uns 200 membros, no total), com um Centro Internacional, no Monte das Oliveiras.

Além das congregações já mencionadas, há várias outras denominações protestantes, numericamente pequenas, presentes em Israel.

Três assentamentos comuns agrícolas protestantes foram estabelecidos em diferentes partes de Israel, nos anos recentes. Kfar Habaptistim, ao norte de Petaj Tikva, foi fundado em 1955 e além de suas atividades agrícolas oferece suas instalações para conferências e acampamentos de veraneio para outras comunidades batistas e protestantes, no país. Nes Amim, perto de Nahariya, foi fundado por um grupo de protestantes holandeses e alemãs, em 1963, como um centro internacional para promoção da compreensão dos cristãos sobre Israel. A oeste de Jerusalém, Yad Hashmoná, fundado em 1971, opera como centro de hospedagem para visitantes cristãos e peregrinos da Finlândia.

A Embaixada Cristã Internacional de Jerusalém (ECIJ) foi fundada em 1980, para demonstrar o apoio mundial cristão por Israel e Jerusalem como sua capital eterna. É um centro onde cristãos de todo o mundo podem obter uma compreensão bíblica do país e de Israel como nação moderna. A rede internacional da ECIJ inclui escritórios e representantes em 50 países, em todo o mundo.

Comunidades "Reconhecidas"

Algumas denominações cristãs têm o status de comunidades religiosas "reconhecidas". Por razões históricas, que datam do período otomano, às cortes eclesiásticas de tais comunidades têm sido outorgadas a jurisdição sobre questões de status pessoal, tais como: o matrimônio e divorcio, em sua comunidade.

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